The Case Against Adolescence
(de Robert Epstein)
por Alexandre Stevens
Durante a terceira jornada do Instituto da criança1 , Jacques-Alain Miller apresentou a adolescência como uma construção a partir de perspectivas que não se recobrem – cronológica, biológica, comportamental, cognitiva, sociológica ou ainda artística.
Uma construção sempre pode ser desfeita e ele aponta o entusiasmo comunicativo com o qual Robert Epstein desconstrói o próprio conceito de adolescência. É o que exprime, precisamente, o subtítulo da obra: “Rediscovering the adult in every teen”.
Epstein afirma sua tese desde o primeiro capítulo, “Le Chaos et la Cause” (O Caos e a Causa). Foi só a partir do fim do século XIX que essa fase da vida foi isolada do mundo dos adultos, com a finalidade de tratar a suposta dificuldade da adolescência e a desordem desses jovens. Ora, sustenta ele, é o contrário que se observa: essa discrepância, longe de tratar os problemas dos adolescentes, os produz. A “crise” da adolescência que podemos observar é a consequência imprevista desse prolongamento da infância. Jamais, de fato, no curso da história, houve tantas leis ou regras que restringissem as escolhas dos teenagers – segundo o termo inglês que ele visivelmente prefere ao de adolescente. É que de fato ele critica nossa sociedade ocidental, sobretudo americana, por considerar os adolescentes a partir apenas da cronologia, da idade.
Essas restrições que tocam os “teens” são portadoras, às vezes, de paradoxos insensatos, como este aqui: em certos Estados americanos, os políticos querem proibir os menores de 21 anos de fumar, sob o pretexto de que, antes dessa idade, não se tem um julgamento suficientemente claro sobre as condições de saúde, mas, ao mesmo tempo, milhares de jovens americanos de 18 anos são enviados à guerra do Iraque sem que se pense que seu julgamento seria insuficiente para mensurar o quanto isso poderia lhes ser nefasto.
Robert Epstein denuncia as incoerências do sistema. Nesse sentido, ele subverte algumas evidências do discurso corrente. Todos os adolescentes são capazes de assumir sozinhos suas responsabilidades? Não, evidentemente. Mas, da mesma forma, nem todos os adultos o são, e alguns jovens podem perfeitamente sê-lo. Ele vai mais longe: é porque se pensa que os adolescentes são incapazes de ser responsáveis que eles frequentemente não tomam decisões que estariam aptos a tomar. Enfim, infantiliza-se demais os teens. Ele propõe, aliás, um teste de infantilização para que cada um possa mensurá-la. Julgar os adolescentes menos capazes do que os adultos faz lembrar, segundo ele, que há pouco tempo, muitos americanos consideravam os negros inferiores aos brancos e as mulheres mais frágeis do que os homens.
Ele examina em detalhes a série de “transtornos” dos adolescentes e os limites que lhes são impostos. O amor e a sexualidade são mais razoavelmente assumidos pelos adultos? Por que pensar que uma garota de 13 anos seria inapta para decidir livremente ter relações sexuais com um rapaz de 25, se ela assim quisesse? Epstein vai longe na sua perspectiva e sabe disso, pois toma a precaução de dizer que não pode responder simplesmente essa pergunta dentro do que é a sociedade americana de hoje. Ele responde, no entanto, que ainda que lhe recusem o direito, uma garota de 13 anos é capaz de fazer suas escolhas nesse plano. O mesmo para o casamento. Ele acredita nos sentimentos recíprocos, ou seja, ele crê na relação sexual.
E depois, por que os teens não poderiam decidir fumar, beber, dirigir, se eles demonstraram que podem fazê-lo? Diríamos que eles não são ainda suficientemente sensatos? Mas quantos adultos também dirigem depois de ter bebido? O mesmo raciocínio serve para o exército e o risco que correm ao se alistarem. Além disso, a história da França não seria a mesma se Joana d’Arc não tivesse podido pegar em armas.
Nenhuma razão de biologia cerebral nem de medida cognitiva (teste de QI) permite pensar que os adolescentes seriam insuficientemente desenvolvidos. E as leis religiosas vão no mesmo caminho: Maria teve Jesus aos 13 anos, Jesus ensinava no templo aos 12 e, para os judeus, o Bar Mitzvah acontece pouco depois da puberdade. Além disso, se os teens dos EUA são os mais atormentados do mundo, nada disso existia entre os aborígenes australianos, para os quais a passagem da infância à idade adulta era feita por um simples rito pouco depois da puberdade.
Para Epstein, todos os transtornos dos adolescentes têm a ver com sua infantilização. A prova lhe foi dada duas vezes por Freud: primeiramente, Sigmund não considerou realmente o conceito de adolescência, e insistiu apenas sobre a vida adulta e infantil; em seguida, Ana, que recebeu de seu pai uma instrução muito estrita durante sua adolescência, descreveu os transtornos dos teens e os seus próprios! Eis a prova: Freud não acredita na adolescência, mas produziu seus transtornos em sua filha infantilizando-a.
Essa desconstrução da adolescência que opera assim Robert Epstein atrai certa simpatia. E pode-se até mesmo encontrar aí certas posições próximas das nossas, nas cinco ideias de base que ele propõe: cada um é único; as competências individuais valem mais que os a priori que possamos ter; cada um tem um potencial irrealizado; as etiquetas diagnósticas do tipo DSM são perigosas.
Além disso, quando ele descreve o desenvolvimento e os dramas da adolescência como não sendo determinados unicamente pela transformação hormonal, nós só podemos estar de acordo com ele. No entanto, não pela mesma razão! Ele denuncia a infantilização dos adolescentes e a coloca na origem dos fenômenos da adolescência enquanto, com Lacan, nós consideramos o adolescente como um sintoma da puberdade desde o momento em que tudo isso não se produziria “sem o despertar de seus sonhos”2
Em Epstein, não há nenhum real reencontrado pelo sujeito. A puberdade, para ele, é antes um momento simbólico particular. Para o resto, tudo é calculável por testes que, aliás, ele nos propõe: testes de infantilização e sobretudo testes de competências. Não se trata, evidentemente, de dar todas as liberdades aos adolescentes. Ao contrário, trata-se de avaliar as competências de cada um dentre eles. Como ele o diz, muito simplesmente: “agora devemos tomar um novo ponto de vista sobre os teens, avaliando-os sobre a base de suas competências individuais” 3. O teste de competências se tornaria, assim, o novo rito de passagem nas sociedades ocidentais?
Certamente a sociedade vai resistir em segui-lo nessa via – diz ele -, especialmente por razões econômicas, porque a invenção do termo “adolescente” deu lugar ao desenvolvimento de todo um mercado em sua intenção.
Mas enfim, não é difícil depreender disso que, se tantos adultos são tão infantis e pouco responsáveis quanto certos teens, mais valeria avaliar todo mundo. O projeto simpático de um pouco de liberdade calculada para os jovens poderia se transformar numa obscena avaliação generalizada.
TRADUÇÃO: Eucy de Mello