Wilker França Raíssa Silveira Eu te digo: estou tentando captar a quarta dimensão do instante-já…
Adolescência – notas sobre mal-estar em tempos sem respiro
Graziela Pires
Associada ao IPB
Na leitura que Marcelo Veras propõe da série Adolescência, emerge com força a experiência de um tempo sem pausa – “não há buraco de respiração” –, o que é possível associar à lógica do plano-sequência da série e à vida contemporânea.
Esse tempo contínuo, sem cortes, espelha uma subjetividade que não encontra intervalos para simbolizar a dor ou formular o sofrimento, aprender a lidar com a frustração. O tempo, que em Freud era aliado do luto e da elaboração subjetiva, torna-se agora uma ameaça, uma ausência: o que não para, não permite que se diga. Diante disso, como sustentar o tempo de uma travessia quando o tempo está sequestrado pela urgência e pela lógica do desempenho?
Veras mostra que, nesse cenário, o ato se impõe como solução – uma saída que “arranca o sujeito da angústia”, ainda que às custas de um curto-circuito do dizer. O imperativo de respostas rápidas, exigido pelo discurso contemporâneo, promove uma tentativa de extirpação prematura do sofrimento, ou ainda um silenciamento forçado de sua elaboração a partir da medicalização. A clínica é tensionada por essa lógica: o sofrimento precisa ser eliminado, não interrogado; o vazio precisa ser preenchido, não sustentado. A palavra, como recurso, está rarefeita – e o sujeito, muitas vezes, nem sequer encontra o Outro para endereçar sua dor.
Nesse contexto, é caro a escuta analítica restituir a possibilidade desse tempo, uma pausa para que haja um dito e um dizer – para sustentar o intervalo, o entre, a pausa em que algo da fala possa emergir. Como diz Veras, a aposta da psicanálise hoje é criar as condições para que o sujeito construa um sintoma sob transferência, pois só assim será possível “fazer laço, desejar, falhar” – três verbos que exigem tempo e não cedem ao imperativo de eficácia que nos governa, como os três tempos do instante de ver, o tempo de compreender e o momento de concluir.