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Mas e o inconsciente transferencial?

Raphael Gadelha
Associado ao IPB

No dia 16 de abril de 2025, fiz uma pergunta incidindo sobre a fala de Mônica Hage. Em seu texto, ela comentou que, no fim de uma análise, o inconsciente não se anula. Pergunto-lhe: “O inconsciente real certamente não se anula, mas e o transferencial? Este se anula?”.

Na tentativa de responder minha própria pergunta, lembro-me de já ter ouvido em aulas que só tem inconsciente quem faz análise – e se no final da análise há a liquidação de transferência, então no fim talvez caia o inconsciente transferencial? Minha suposição é de que não cai, e penso no termo inconsciente-linguagem, também utilizado para se referir ao inconsciente transferencial… Bom, no fim de uma análise não nos desembaraçamos da linguagem, não deixamos de cometer atos falhos; daí, penso que não deixa de existir inconsciente transferencial.

Então, Mônica lança uma pergunta: “Se não cai o inconsciente-linguagem, o que acontece com ele?”. Julia Solano aponta que, em O osso de uma análise (Miller, 2015, p. 105-106), Miller demonstra que no final há uma liberação da libido investida na fantasia. Esse investimento libidinal se desprende e agora será investido no sintoma, como modo de gozar. Não se trata de deixar de fantasiar, mas estabelecer uma outra relação com a fantasia que, num trabalho de análise, culmina em um progressivo desinvestimento libidinal. Diz Miller(2015, p.106): “Portanto, se ela [a libido] se retira da fantasia, onde ela vai investir? Essa é a verdadeira questão do passe. […] Nenhum desinvestimento pode impedir que reste o modo de gozar, que reste o sintoma como modo de gozar.”

Fátima Sarmento traz uma importante consideração: a de que Miller(2023, p.147) diz, no livro Como terminam as análises: paradoxos do passe, que não há atravessamento da transferência, não há grau zero da transferência. Essa questão é comprovada com a continuidade da transferência, transformada em transferência de trabalho, com a escola, ao fim de uma análise.

Marcela Antelo contribui para a discussão retomando o conceito de Sujeito suposto Saber, composto de duas suposições, segundo Miller (2018) estabeleceu há anos na famosa “ConferenciaenEspaña”: a suposição de um sujeito e a suposição de um saber. O sujeito é efeito e não causa de saber. Um sujeito efeito de um saber e não alguém que sabe. Ao fim de uma análise, não esperamos mais que o analista nos entregue “a pepita de ouro de nosso ser”; não pensamos que ele seja possuidor da verdade sobre nós (esta é a equivocação do Sujeito suposto Saber que vai caindo ao longo de uma análise). Não deixamos de supor sujeito efeito de um saber ao fim de uma análise. Alguém pode encarnar no corpo um efeito sujeito, de saber, furado. Entretanto, ela aponta que estamos empolgados para que EsthelaSolano-Suarez venha falar para nós na Jornada… Não é porque supomos nela um sujeito efeito de um saber?


Referências
MILLER, J.-A. O osso de uma análise: mais O inconsciente e o corpo falante.Rio de Janeiro: Zahar, 2015.
MILLER, J.-A. Como terminam as análises: paradoxos do passe. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.
MILLER, J.-A. Introducciónala Clínica Lacaniana:ConferenciasenEspaña. Barcelona: Gredos. 2018.

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