Quem faz sentido é soldado Mario Quintana A escrita de textos em psicanálise se difere…
A tinta inexistente
Anderson C. Veloso Viana
a palavra é o disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,
foi inventada para ser caladaMaria Adélia Prado
O presente texto tem como objetivo relatar pontos da transmissão feita1 na EBP-Ba por Iordan Gurgel, no último 14 de julho, que considerei relevantes para efeitos de atualização do tema da Jornada e do Encontro deste ano.
Iordan evidenciou o fato de não haver como dizer a verdade sobre o trauma. Neste sentido, cada um é convocado a responder algo para dar conta do mesmo. Fazendo referência a Marie-Hélène Brousse: “a cada sujeito seu próprio mal estar”, e tomando também como referência Guy Briole, Iordan trouxe a ideia de que o trauma é a marca do homem, indelével, que não se apaga e não se modifica pelo recalque. É, assim, o que inscreve o sujeito na linguagem deixando um resto que o simbólico não pode reabsorver, apesar de não tentar deixar de fazê-lo.
Neste sentido, Iordan continuou abordando o tema, tomando o trauma em Freud como algo que marca um antes e um depois que a consciência não pode apagar porque não há uma defesa possível. Destaca dele, a importância da subjetivação do acontecimento e não o acontecimento propriamente dito como faz a abordagem médica.
Aí estaria localizado o trauma sexual na origem de todo falasser, na cópula problemática da palavra com o real do corpo, como desenvolve Lacan. Já no percurso deste, destaca, entre outros momentos, o Seminário 11 (1964), no qual encontramos a ideia do trauma como o encontro com o real que a linguagem não dá conta. Não havendo relação sexual surge o troumatismo, trauma que esburaca, levando o sujeito a inventar suas formas de defesa contra o real, particularizando seu modo de gozar.
Quando Lacan começa a relacionar o real com o corpo afetado pela linguagem (alíngua), ele passa a se interessar pelo trauma como o que não anda e que é da ordem do impossível e não mais como o que tinha significado a decifrar.
Iordan então propõe a questão: se a interpretação não alcança o trauma, como metabolizá-lo? Sendo a linguagem organizada simbólica e imaginariamente em torno de um furo fundamental, é possível falar de um efeito produtivo do trauma quando na falta de um sentido o sujeito é convocado a uma invenção.
Continuando com Lacan no Seminário 24(1977), L ́insù, Iordan pontuou que se trata da identificação do trauma com uma instância da estrutura do sujeito, da tyché (encontro com o real) que está mais além do automaton: o falar não adormece o real, mas o núcleo traumático faz falar, ordena o discurso com consequências no final de análise.
Resgatando Miquel Bassols, evidenciou que a bomba da sexualidade permanece ativada, sendo o analista chamado a desativá-la. Assim, conclui, desde sua origem com Freud, que a psicanálise precisou reconhecer uma evidência clínica: a realidade psíquica não coincide de modo algum com a realidade objetiva, seja ela fatual ou do discurso, impossibilitando um caminho universal.